Vamos começar a nossa história lá pelos anos de 1700. O Brasil não conhecia nem o burro e nem a mula e muito menos o trem, o caminhão e o avião. O transporte era feito no lombo dos pobres índios escravos, que eram obrigados a andar centenas de quilômetros para entregar um saco de feijão ou de milho. Conta-se, na história de Sorocaba, que Baltazar Fernandes, grande plantador de trigo e produtor de farinha, enviava a sua produção para o Rio de Janeiro e Salvador da Bahia, através do porto de Santos. Mas, para chegar até Santos, a mercadoria ia nas costas dos índios, através de trilhas perigosas, na Serra do Mar.
Mas, e os cavalos, os bois? Estes já existiam, o cavalo é um animal bonito, admirável, mas não tem muita força, não tem resistência. Não aguenta essas caminhadas, carregando peso. Não suporta os terrenos acidentados. E os carros de boi? Também não eram solução, porque não existiam estradas no Brasil dessa época, só caminhos e trilhas. Quem ajudava um pouco no transporte das pessoas e da produção era o barco, somente nas regiões servidas por rios navegáveis.
Para resolver esta questão complicada do transporte no Brasil colonial, surge a figura do bandeirante paulista Bartolomeu Paes de Abreu, um herói brasileiro muito pouco conhecido. Ele morava numa fazenda perto de Curitiba, mas já tinha viajado por todo o Brasil, conhecia o norte e o sul. Sabia, por exemplo, que nas minas gerais, onde corria o ouro, as pessoas estavam
morrendo de fome. Não tinham o que comer, e para matar a fome os mineiros comiam gatos e cachorros, caçavam bicho de todo tipo no mato e até se serviam das raízes das árvores. Com tanto ouro, com tanta pedra preciosa à vista, ninguém queria plantar feijão ou criar um porquinho e uma galinha para saciar a fome.
A pouca comida que abastecia os garimpos vinha de São Paulo, do Rio de Janeiro ou do Nordeste. E no lombo dos índios. Um saco de feijão, transportado assim, levava dois meses, de São Paulo à região de mineração.
O velho bandeirante sabia mais. Sabia da existência, nos pampas da Argentina, de grandes manadas de burros e mulas, vivendo no bem bom, com água e capim fresco, por falta de trabalho. Esses animais, especializados em transporte de carga, tinham vindo da Espanha para resolver o problema do transporte da prata das minas de Potosi, na Bolívia. Com a decadência das minas de prata de Potosi, esses animais ficaram sem trabalho. Estavam ali ociosos, desempregados. (continua na Lição II)